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Por Daniel Carvalho

O cenário é desolador. Imagine uma praça de guerra que produz, todos os anos, ao menos 11 mil mortos e muito milhares de sequelados. Pois é este o número de fatalidades produzidas por acidentes de trânsito envolvendo motociclistas anualmente no Brasil. Adivinhe qual é a capital em que ocorrem mais mortes em acidentes de moto? Ela mesma, Teresina!

O número de fatalidades é alarmante. Ele revela que há uma epidemia que afeta principalmente a população mais pobre. Suas vítimas são aqueles que, não encontrando ônibus, recorrem a uma moto para se deslocar pela cidade, muitas vezes sem habilitação nem habilidade para pilotar.

O crescimento do número de motocicletas na frota nacional é um fenômeno que vem se cronificando há anos. De acordo com o IBGE, o número de motocicletas, motonetas e ciclomotores aumentou quase que exponencialmente na primeira década do século. Entre 2006 e 2011, o aumento foi de 61%.

O crescimento ficou acima dos dois dígitos até 2013, caindo um pouco nos anos seguintes em função de fatores estruturais (crise econômica e posteriormente a COVID).

No Piauí, especialmente na capital Teresina, os efeitos desse crescimento foram neastos. 17,6 motociclistas morreram para cada grupo de 100 mil habitantes. É praticamente dez vezes mais do que a mortalidade da COVID no Brasil.

17,4 motociclistas por cem mil habitantes sofreram algum tipo de hospitalização em 2021 no Piauí – seis vezes mais do que a média nacional, tornado-se o estado mais mortal do País para motociclistas.

A Prefeitura de Teresina deixou perder um investimento que, atualizado, beira um bilhão de reais. O Sistema Inthegra, o grande vilão do transporte teresinense, começou a se desintegrar assim que foi inaugurado em 2018. Nove corredores de ônibus, oito terminais e 40 abrigos foram abandonados e depredados. O atual prefeito prometeu resolver em 15 dias no início de seu mandato. Até hoje, só fez agravar a crise do transporte. As empresas de ônibus alegam que o serviço é péssimo porque a Prefeitura não apga o que deve. O valor da dívida já supera R$ 100 milhões.

Um relatório de auditoria produzido pelo Tribunal de Contas do Estado apontou a excessiva motorização da população como causa dessa carnificina no trânsito. A população aprendeu a se equilibrar sobre duas rodas e aceitou o perigoso jogo de vida e morte para sair da imobiidade. Os que sobreviverem só voltarão ao transporte público se o sistema oferecer ótimos benchmarks de rapidez, conforto e preço.

O vale-tudo nas ruas tem sido encarado por condutores muitas vezes sem formação ou equipamentos de segurança. Na periferia, boa parte pilota sem capacete, descalça e desconhece a legislação de trânsito.

O governo do Estado e nós, no DETRAN, temos nos empenhado em fiscalizar e reeducar os infratores. As campanhas têm surtido efeito, mas a solução só virá mesmo com a reorganização do sistema.

Enquanto isso não for feito, os hospitais públicos permanecerão lotados de feridos, famílias enlutadas serão cada vez mais frequentes e a economia continuará tropeçando nas estatísticas de uma tragédia permanente que quando não mata, incapacita especialmente os mais jovens, que representam a parcela mais produtiva da população.

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