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Teresina é a capital mais violenta do país para quem anda de moto. Todos os anos, cerca de 200 pessoas morrem e milhares ficam mutiladas, com sequelas permanentes ou incapacitadas para a vida produtiva. De cada 100 acidentados que chegam aos prontos-socorros de Teresina, 84 são provenientes de acidentes com motocicletas.

As causas desse banho de sangue são múltiplas e complexas. Elas passam pela falta de educação e qualificação técnica, ausência de fiscalização, resistência ao uso de EPIs (principalmente o capacete) e embriaguez ou drogadição do condutor. Mas na origem desse flagelo está a precaríssima infraestrutura de transporte público na capital piauiense.

A última gestão municipal, com sua manifesta incompetência e desinteresse, deixou perder um investimento que custou caro aos teresinenses: o Sistema Inthegra. Formado por 9 corredores, 8 terminais e mais de 40 paradas, o Inthegra custou quase R$ 1 bilhão aos contribuintes. E isso fez toda a diferença para a composição

Inaugurado em 2018, foi abandonado durante a pandemia até ter suas instalações depredadas e dilapidadas pela falta de uso e ação de vândalos. Hoje, as paradas quase todas se encontram destruídas. Vidros foram quebrados, equipamentos de ar-condicionado se perderam. A infraestrutura está se perdendo e vai ser preciso gastar uma fortuna para reparar o que foi vandalizado.

O pior, no entanto, é que a falência do sistema Inthegra agudizou um problema que já vinha ganhando forma há anos, com a popularização das motos e ciclomotores de baixa cilindrada. Sem ônibus, incapaz de fazer valer seu direito de ir e vir, a população passou a comprar motocicletas.

Hoje, Teresina tem uma das mais altas taxas de motorização individual do país. Aqueles que deveriam estar se deslocando em ônibus rápidos e confortáveis estão disputando espaço nas ruas com carros, ônibus e caminhões em franca desvantagem. Desprotegidos, desprovidos de habilitação técnica, arriscam-se a perder a vida (ou um braço, uma perna) porque precisam chegar ao trabalho, à escola, ao hospital, e não há outro meio a não ser este.

O governo do Estado tem tentado fazer a sua parte. Na Escola de Trânsito do DETRAN, por exemplo, promovemos várias iniciativas para tentar mitigar o problema. Fomos bem-sucedidos, pois conseguimos cortar quase pela metade o número de mortos em acidentes de trânsito. Mas ainda falta muito, e continuará faltando enquanto a Prefeitura não sair da criminosa imobilidade em que se enfiou na última gestão.

O contingente de vítimas dessa situação é enorme. São mais de 220 mil pessoas potencialmente afetadas pela falta de um transporte digno. Se fossem tratadas com respeito pela administração pública, não deveriam estar arriscando a vida na jornada de selvageria em que se transformou o trânsito caótico de Teresina.

Pois a cidade tem uma chance de reverter essa situação. Na eleição deste ano, nenhum candidato que não se comprometa com a restauração do Inthegra e a criação de um sistema humano e eficiente de transporte merecerá o sufrágio da população.

É preciso mudar esse quadro com urgência. A guerra surda das ruas custa vidas, deixa famílias enlutadas e onera os cofres públicos com sua romaria de mutilados e incapacitados. Vamos mudar essa realidade antes que nos transformemos em uma romaria de mutilados.

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