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Por Daniel Carvalho

O cenário é trágico, mas pouca gente se importa com ele. Quantas vezes você já não se entristeceu aos passar por algum acidente envolvendo motociclistas — sem se dar conta de que a cena macabra se repete constantemente em Teresina? Quantas vezes você viu corpos estraçalhados no chão e uma multidão reunida em torno deles, atraída por esse espetáculo funesto que é o trânsito na capital do Piauí?

Infelizmente, para quem tem o dever de resolver o problema, essas cenas terríveis não passam de episódios cuja dor a população precisa suportar sem reclamar.

Durante mais de um ano, foi minha função à frente da Escola Piauiense de Trânsito, que as pessoas chamam carinhosamente de Escolinha do DETRAN, encontrar um meio de conter essa selvageria. As campanhas de educação foram muito bem sucedidas, mas a verdade é que o Piauí ainda está longe de se tornar um estado amigável para quem se desloca sobre duas rodas.

Nas estatísticas, o horror que divisamos todos os dias ganha sua sua verdadeira dimensão. A cada quatro mortes que ocorrem, uma é provocada por acidentes de trânsito. As colisões, a imprudência e a imperícia matam mais do que o câncer e as doenças cardíacas.

De acordo com o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, dados de 2021, ano da pandemia, dão conta de que não há lugar mais perigoso no Brasil para o transporte por motocicleta.

Os acidentes de moto mataram 17,6 pessoas e provocaram a hospitalização de 17,4 em cada 100 mil habitantes. Comparado com o de outros estados, o índice é um esculacho. No Rio de Janeiro, a proporção foi de 1,9 mortos a cada 100 mil habitantes – um décimo do que temos no Piauí.

Em São Paulo, onde mais de um milhão de motos duelam com carros, ônibus e caminhões por espaço nas ruas, foi de 3,6/100 mil. Aqui, temos 5 vezes mais mortos.

A média brasileira é de 5,7 mortes/100 mil habitantes. Em Teresina, temos três vezes mais mortes e sequelados.

E por que essa epidemia se abateu sobre nós? A explicação é complexa, mas pode ser vista por qualquer cidadão de olhar atento e atitude crítica. Olhe para o que sobrou do Inthegra, o nosso sistema de transportes que botou no lixo quase R$ 1 bilhão.

A incúria de sucessivas administrações, com destaque para a atual, destruiu não apenas esse equipamento público tão importante – terminais, paradas de ônibus etc. – mas também a esperança da população na conquista de um sistema de transporte rápido, confortável e útil.

Duzentas e vinte mil pessoas tiveram que encontrar um meio de sair de casa para ir ao trabalho, ao hospital quando necessário ou visitar um parente do outro lado da cidade. E a solução foi comprar motocicletas de baixa cilindrada e ciclomotores , pois são baratos e acessíveis.

Hoje, o Piauí é um dos poucos estados brasileiros que têm mais motos em circulação do que a soma das demais categorias de veículos. São 371.210 motos e ciclomotores contra apenas 202.278 automóveis e 44 mil caminhonetes. Os ônibus, onde a maior parte desses motociclistas deveria estar abrigada, são apenas 4 mil para atender mais de 220 mil habitantes.

Na medida em que se equipavam para enfrentar a imobilidade, os novos motociclistas começavam também a escalar os números dessa tragédia. A dimensão do estrago foi captada pelo Tribunal de Contas do Estado, que fez uma auditoria sobre as razões da falência do Inthegra.

Entre as conclusões, o TCE constatou que “embora tenha havido a previsão de aumento no número de viagens, o tempo médio de espera para os passageiros que iam de bairro para o centro ou para locais antes do centro aumentou consideravelmente ou não teve uma expressiva redução”. Ou seja: depois de gastar quase R$ 1 bilhão, o transporte por ônibus piorou em Teresina.

E não adianta tentar culpar as vítimas pelo problema. Segundo o TCE/PI, o que faltou mesmo foi gestão e competência política e administrativa: houve “falta de controle efetivo das Ordens de Serviço Operacional, a insuficiência de profissionais capacitados para atuar na fiscalização, a dificuldade em aplicar as devidas penalidades aos operadores, quando ocorrem irregularidades, e a ausência de efetiva aferição de indicadores de desempenho”.

O que os números da tragédia indicam e as conclusões do TCE apontam precisa ser compreendido pelos gestores públicos: dependemos de competência e compromisso para resgatar o Inthegra, reformar os terminas e abrigos e colocar os ônibus para rodar com pontuaidade, conforto e eficiência. É o mínimo que homens públicos comprometidos com as necessidades da população podem fazer.

Estamos a um passo de fazer uma escolha importante. No dia 6 de outubro a cidade vai eleger seu futuro prefeito e vereadores. Dessa escolha vai depender a maneira como a população vai reagir — se vai continuar se arriscando em motocicletas inseguras ou vai aderir ao transporte coletivo.

Eu já estive no centro das decisões e sei o quanto pequenas atitudes no sentido correto geram felicidade e bem-estar social. Afinal, com educação no trânsito nosso estado conseguiu reduzir quase que pela metade o número de mortos no trânsito.

Cada um de nós precisa fazer a sua parte. Se o papel que lhe cabe é o de fazer a melhor escolha possível, compra-o! Depois de quase quatro anos de caos administrativo na Prefeitura, já sabemos quanto custa votar mal, fazer escolhas ruins.

Antes de ir para a urna depositar seu voto, lembre-se: todo ano, 200 pessoas morrem porque se arriscaram a pilotar uma moto para conseguir chegar ao trabalho, posto que não existe alternativa a isso no cenário atual.

Votando bem, você vai ajudar a salvar toda essa gente.

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